Teoria
das Representações Sociais e Feminismo
A
teoria de Moscovici denominada Teoria das Representações Sociais - TRS parte do
pressuposto que há racionalidade na vida cotidiana contrapondo a concepção de
que apenas o saber científico está protegido de qualquer incerteza (ARRUDA,
2002). Por esse motivo, a TRS nasce totalmente articulada com a realidade
concreta. Moscovici parte da obra de Durkheim para pensar na sua teoria. O
último apresentou as representações coletivas como o conjunto de crenças e
mitos que determinado povo constrói e reconstrói na busca pela integração
cultural. Moscovici acreditava que essa teoria merecia atualizações nos níveis
operacionais e teóricos.
Na
esfera teórica, ele percebe que os processos de representações sociais se
alteraram em decorrência do próprio momento histórico, no qual a informação
transcorre velozmente. Tais representações estão em contínuo movimento e
abarcam os aspectos sociais de cada indivíduo produtor de significados. No
aspecto operacional, Moscovici designa dois processos pelos quais os indivíduos
percebem e interpretam o meio externo: objetivação e ancoragem. O primeiro
refere-se ao movimento de assimilação do desconhecido através da seleção das
informações pertinentes, associação do conteúdo inexplorado com o conhecimento
prévio e finalmente a naturalização, quando o objeto se cristaliza em uma
imagem mental (ARRUDA, 2002). No segundo processo, ancoragem, o objeto
assimilado é inserido no contexto social e é incluído na bagagem do indivíduo
(ARRUDA, 2002).
Ângela
Arruda (2002), apontou as similaridades entre a TRS e o feminismo ao delinear a
construção dos dois movimentos na década de 60. Ambos nascem do confronto à
hegemonia científica e social, a TRS discordando das restrições e imposições da
ciência e o feminismo enfrentando o sistema patriarcal. Dessa forma, ofereceram
voz e credibilidade às mulheres e ao saber popular. As duas teorias
representaram rachaduras em sistemas rígidos nos quais poucos grupos detinham o
controle e apontavam o binarismo e reducionismo científico como normas.
Atualmente,
as teorias de gênero são abundantes, mas todas ainda se concentram na ideia de
não-binarismo e apoiam a subjetividade livre e múltipla. Dessa forma, continuam
esbarrando em ideias binárias e deterministas do que é ser homem ou mulher. O
principal risco deste tipo de percepção é o ataque contra pessoas que fogem
dessa lógica. A violência contra travestis e transexuais denunciam a
dificuldade em recriar percepções enraizadas que apontam tais indivíduos como
destoantes e inadequados, condenando-os à margem social. Há ainda a violência doméstica contra a
mulher, que se perpetua pela representação de que o homem ainda pode
controlá-las e aplicar-lhes castigos quando apresentarem comportamentos
inadequados na visão deles.
A
TRS e as Teorias de Gênero iniciaram um percurso que ainda está longe de ser
findado. Ofereceram subsídios e reflexões para embasar a ideia de que há mais
de um olhar sobre todo e qualquer objeto e o feminismo, especificamente, abriu
caminho para a luta pela multiplicidade subjetiva e pela flexibilidade dos
papeis sociais.
Em
suma, as representações sociais são os mecanismos que asseguram produção e
reprodução do saber humano. Presente em todos os âmbitos, auxiliam na
compreensão das ideias arraigadas que motivam diversos tipos de preconceitos e
violências. Sendo assim, merece atenção os processos de ancoragem que legitimam
as representações que concebem as diferenças pessoais como empecilho para a
prática do respeito.
Luender
Rytchel Martins
Bibliografia
ARRUDA,
A. Teoria das representações sociais e
teorias de gênero. Cad. Pesqui.
no.117 São Paulo Nov. 2002.
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